sexta-feira, 26 de novembro de 2010


"Cansada.
Fatigada de percorrer essas ruas vazias.
Reflexos insanos.
Espelhos mortos.

Cansada.
Por trilhar essas estradas frias.
Máscaras vis
Do mundo dos enfermos!

Vista-se desse tolo calar!
Afogue-se sobre tua doce humanidade...
Livra-me desse pesar!

Vá coberto desse teu manto sujo!
Que já escorre pelo meu rosto
Essas tuas faces mortais!"

Naiara C. M.



"Afastou o próprio rosto e contemplou novamente o outro rosto. Embora destruído, o que restava do outro rosto continuava belo, e ainda imóvel, e também indecifrável. Então percebeu: o outro rosto não era um rosto vivo. O outro rosto era uma máscara morta sobre um outro rosto vivo. Estendeu as duas mãos e arrancou a máscara do outro rosto. Por trás da máscara, por baixo do outro rosto estava o rosto dele mesmo. Inteiro e sem ferimento algum, o rosto dele mesmo. E era lindo, o próprio rosto vivo por trás da máscara morta do outro rosto. Ele ficou olhando o próprio rosto. Ele estendeu as mãos e tocou o próprio rosto com todo carinho—e eram hirto, esse carinho — que era capaz."

Caio Fernando Abreu



"Alea Jacta Est"

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Abismos Particulares


"É o espinho que não se vê em cada flor
É a vida quando
Chega sangrando
Aberta em pétalas de amor"
O Velho e a Flor - Vinicius de Moraes



"Para além da orelha existe um som, à extremidade do olhar um aspecto, às pontas dos dedos um objeto - é para lá que eu vou. À ponta do lápis o traço. Onde expira um pensamento está uma idéia, ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a magia - é para lá que eu vou. Na ponta dos pés o salto. Parece a história de alguém que foi e não voltou - é para lá que eu vou. Ou não vou? Vou, sim. E volto para ver como estão as coisas. Se continuam mágicas. Realidade? Eu vos espero. E para lá que eu vou. Na ponta da palavra está a palavra. (...) À beira de eu estou mim. É para mim que eu vou. E de mim saio para ver. Ver o quê? Ver o que existe. Depois de morta é para a realidade que vou. Por enquanto é sonho. Sonho fatídico. Mas depois - depois tudo é real. E a alma livre procura um canto para se acomodar. Mim é um eu que anuncio. (...) Amor: eu vos amo tanto. Eu amo o amor. O amor é vermelho. (...) À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo. Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto. (...) Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós."


Clarice Lispector

domingo, 31 de outubro de 2010

O Morro dos Ventos Uivantes




"Não digas onde acaba o dia.
Onde começa a noite.
Não fales palavras vãs.
As palavras do mundo.
Não digas onde começa a Terra,
Onde termina o céu
Não digas até onde és tu.
Não digas desde onde és Deus.
Não fales palavras vãs.
Desfaze-te da vaidade triste de falar
Pensa,completamente silencioso,
Até a glória de ficar silencioso,
Sem pensar."
Cecília Meireles



Catherine: "mas porque ele é mais eu do que eu própria. Não sei de que são feitas nossas almas, mas sei que a minha e a dele são iguais!(...)Meus maiores sofrimentos neste mundo têm sido os de Heathcliff.(...)Meu maior cuidado na vida é ele. Se tudo desaparecesse e ele ficasse, eu continuaria a existir. E se tudo o mais ficasse, e ele fosse aniquilado, eu ficaria só em um mundo estranho, incapaz de ter parte nele.(...)Meu amor por Heathcliff é como as rochas eternas que ficam debaixo do chão; uma fonte de felicidade quase invisível, mas necessária, eu sou Heathcliff" (pág. 104-105)

Heathcliff: "Porque traiu seu coração, Cathy? Não tenho para lhe dar uma palavra de consolo. Merece o que está sofrendo(...)pode arrancar também de mim beijos e lágrimas(...)você me ama...que direito tinha então de me deixar?.(...)Porque nem a desgraça, nem a miséria, nem a morte, nem nada - nenhuma praga mandada por Deus ou satanás nos poderia separar - (...) não lhe despedaçei o coração; você o despedaçou sozinha!E, com o seu, esmagou também o meu. (pág.203)



"All I am begins with you
Thoughts of hope understood
Half of me breathes in you
Thoughts of love remain true"
Sister- The Nixons

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

e que o simples seja eterno...


"Cause you and I
We are meant to be
Whatever the future might
Choose for us to see
Again…

You can break my heart in one or two
or in a zillion pieces
You can bring me down
You can take me high
Oh boy, we still have
One last dance
Let’s take it
Let’s give us one last chance

(...)I guess this song
Is sung off-key
That’s how I see
this sweet funny melody
The end"
Thiago Pethit, Sweet Funny Melody




Quando ele liga e ouço aquela voz, eu sei que aquela é a voz que minha alma precisava. Quando ele sorri desarmado, limitado e impotente, para todas as minhas dúvidas, inconstâncias e chatices, eu sei que é daquele sorriso que minha alma precisava.

Ele não faz muito pela minha angústia existencial, até por não saber. E consegue tudo de mim. Consegue até o que ninguém nunca conseguiu: me deixar leve. Sabe rir mole de bobeira? Sabe dançar idiota de alegria? Sabe dormir gemendo de saudade? Sabe tomar banho sorrindo para a sua pele? Sabe cantar bem alto para o mundo entender? Sabe se achar bonita mesmo de pijama e olheiras? Sabe ter ânsia de vômito segundos antes de vê-lo e ter fome de mundo segundos depois de abraçá-lo? Sabe não aguentar? Sabe sobrevoar o frio, o cinza, os medos, os erros e tudo que pode dar errado? Ele consegue fazer com que eu me perdoe por apenas viver sem questionar tanto.

Eu quero parar com tudo isso, ele, apesar dos poucos meses de diferença de idade, é um garoto inconsequente que não pode acompanhar minha louca linha de raciocínio meio poeta, meio neurótica, meio madura. Eu quero colocar um fim neste tormento de desejar tanto quem ainda tem tanto para desejar por aí. Mas aí eu me pergunto: pra quê? Se está tão bom, se é tão simples. Ele me ensinou que a vida pode ser simples, e tão boa. Tô uma perfeita adolescente, e isso parece um texto de diário que termina com o nome dele dentro de um coração desenhado com caneta roxa de glitter com cheiro de uva.


Tati Bernadi

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Indivisíveis



"É, só eu sei
Quanto amor eu guardei
Sem saber que era só prá você
É, só tinha de ser com você
Havia de ser prá você (...)
Se ao menos pudesse saber
Que eu sempre fui só de você
Você sempre foi só de mim"

Só tinha de ser com você, Tom Jobim


O meu primeiro amor e eu sentávamos numa pedra
Que havia num terreno baldio entre as nossas casas.
Falávamos de coisas bobas,
Isto é, que a gente achava bobas
Como qualquer troca de confidências entre crianças de cinco anos.
Crianças...
Parecia que entre um e outro nem havia ainda separação de sexos
A não ser o azul imenso dos olhos dela,
Olhos que eu não encontrava em ninguém mais,
Nem no cachorro e no gato da casa,
Que tinham apenas a mesma fidelidade sem compromisso
E a mesma animal - ou celestial - inocência,
Porque o azul dos olhos dela tornava mais azul o céu:
Não, não importava as coisas bobas que diséssemos.
Éramos um desejo de estar perto, tão perto
Que não havia ali apenas duas encantadas criaturas
Mas um único amor sentado sobre uma tosca pedra,
Enquanto a gente grande passava, caçoava, ria-se, não sabia
Que eles levariam procurando uma coisa assim por toda a sua vida...


Mario Quintana

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Dá-me a Tua Mão


"I don't wanna talk about it
How you've broke my heart
If I stay here just a little bit longer
If I stay, won't you listen to my heart?"

I Don't Want To Talk About It - Rod Stewart



"Dá-me a tua mão: Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio."


Clarice Lispector

sexta-feira, 30 de julho de 2010


"Palavras não descrevem os olhos, as bocas, os braços e abraços, nem a alegria até então desconhecida, surgida de um (re) encontro. Pra quem, há dias atrás, refletia tanto as obras do acaso, hoje compreende que realmente, o acaso não passa de um simples nada, e acredita em algo bem maior que isso. Que levará à um próximo reencontro, sem sombra de dúvidas. Mas até lá, todas as músicas cantadas estarão na mente, todos os sorrisos que ainda não acreditavam no que estava acontecendo, todos os olhares que transpareciam toda a magia do momento."

Caio Fernando Abreu

domingo, 25 de julho de 2010

Vai passar...


"Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança"

Bom Conselho, Chico Buarque


Vai passar, tu sabes que vai passar.
Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe?
O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada “impulso vital”.
Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como “estou contente outra vez”. Ou simplesmente “continuo”, porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como “sempre” ou “nunca”.
Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas.
Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim – nós, não.
Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como “não resistirei” por outras mais mansas, como “sei que vai passar”.
Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.
Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais.
Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor.
Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente – e não importa – essa coisa que chamarás com cuidado, de “uma ausência”.
E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração.
Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer.
E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.
Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio.
E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos.
Serão tantas que desistirás de contar.
Então fingirás – aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam.
Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho.
Achando graça, pensarás com inveja na lagartixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.
Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.
Já não é tempo de desesperos.
Refreias quase seguro as vontades impossíveis.
Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:
- … mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca …

(Caio Fernando Abreu)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Caio Fernando Abreu, ainda vão ler muito dele aqui

Alento

Quando nada mais houver,
eu me erguerei cantando,
saudando a vida
com meu corpo de cavalo jovem.
E numa louca corrida
entregarei meu ser ao ser do Tempo
e a minha voz à doce voz do vento.
Despojado do que já não há
solto no vazio do que ainda não veio,
minha boca cantará
cantos de alívio pelo que se foi,
cantos de espera pelo que há de vir.

(Extraído do livro Caio Fernando Abreu- Caio 3D, O Essencial da Década de 1970, p.144)

"Só não poderá falar assim do meu amor
Este é o maior que você pode encontrar
Você com a sua música esqueceu o principal
Que no peito dos desafinados
No fundo do peito bate calado
Que no peito dos desafinados também bate um coração

Desafinado, Tom Jobim




É,está tudo bem sim, eu fico feliz. Acho que também estava com saudades...Não,não é isso, é que eu prefiro tornar essas linhas sentimentais mais graves, roucas.é, eu sei que você não gosta, mas o que há de fazer? Vou pegar um suco qualquer, quem sabe para escapar, não sei, prefiro mais acidez.
Não, você não precisa ir, e mesmo que fosse ainda ficaria. é, eu sei que você não entende, mas não importa, eu gosto disso. Não, não estou dizendo que você é tolo, ou talvez seja, mas afinal, eu gosto, de que importa, então? Tudo bem, tudo bem, eu tento ser mais clara.
Amor? não sei... mas amor...O que é amor? não, não fique chateado, é só uma palavra, simples, só isso. Sim, eu sei que você tem suas certezas, eu também queria ter, mas não sei, sou feita de questionamentos tolos e imprevisíveis, prefiro não comprometer minha rouquidão...
O que eu sinto? Eu gosto dos seus detalhes, não sei. Os poucos que te formam, tão frágeis e sinuosos, são belas tolices, eu acho. Não, já disse que não estou te chamando de burro, essas tolices a qual me refiro são apenas pequenas linhas meio púrpuras que eu costumo ver no seu olhar, sabe? Acho que você foi crescendo, crescendo, eu nem achava que seria tanta coisa.. Não, eu não sei se é amor, só sei que cresce.
Medo?? Tenho medo do escuro...Eu sei que amo a noite, o que tem? Talvez por isso ame mais ainda a Lua... Ah, tenho medo de não viver também, quero viver tudo, eu acho. Outro medo? não sei... tenho medo de me questionar demais, o que você acha? é, eu sei que você acha que eu não faço sentido, mas... Será que amar é não fazer sentido algum? Amar vai além dos sentidos, talvez, não sei.
Tudo bem, depois você lê a revista, me diz, o que é amar pra você? Então como crê em algo que não sabe? Não sabe descrever? Nossa, que clichê. É, talvez você seja clichê sim. Não, não brigue, eu também gosto da sua simplicidade, me preenche desse nada abstrato que você tanto refaz e refaz, essas minhas perguntas incompreendidas...
Cômico? Talvez,...Você sempre solta essa risada do nada, acho que eu gosto disso, dos tons graves meio espontâneos,é, eu gosto. Eu sei, eu sei, o suco acabou, talvez você possa pegar amoras no jardim agora...é, eu sei que você não tem amoras no jardim, mas por que não?

Naiara C. M.

Apresentações



Então, todo mundo vai perguntar, "porque outro blog,não sei o que?" esse tipo de coisa, então o primeiro post vai ser para esclarecer.
O "Pétalas do Luar" (http://petalasdoluar.blogspot.com/) é uma dentre as minhas faces.É um blog de formato mais escuro, gótico e talz, que eu amo muito e vou continuar cuidando e postando sempre que puder.
O "pétalas e divagações" reflete o meu cotidiano =) quer dizer, raramente as pessoas me vêem sem um sorriso qualquer! É essa face mais leve que quero expor aqui =D
enfim, não há um tema para o blog... vou discutir, informar, colocar citações, criações minhas, enfim ^^
e que as pétalas se perpetuem!